Rubia Gouveia

CNV & Finanças

Quem paga a conta?

Sobre mim

Rubia Gouveia

@rubiagouveia

Todo mundo paga. Mas reduzir o nosso papel na sociedade ao gênero, só encarece tudo.

Ninguém “tem que” nada. Vou partir daqui para escrever sobre a polêmica na fala do Caio Castro, sobre pagar a conta num date. Após dizer não se importar em pagar a conta, ele acrescenta: “O que me incomoda muito, muito, é essa sensação de eu TER QUE pagar…“

E aí eu li algumas coisas do tipo “mas a mulher gasta pra se arrumar”. E a pergunta que fica é: quando você se arruma para sair com uma amiga ela paga a conta? Mulheres que se arrumam “para o homem” reforçam um papel passivo da mulher, do patriarcado.

“Mas e o cavalheirismo?” Eu não gosto dessa palavra e prefiro gentileza, pelo simples fato que ela é sempre bem vinda, não importa o gênero. Sem reproduzir obrigações que só fortalecem o machismo. 

“Mas eu preciso me valorizar”: o cara não te valoriza mais por pagar a conta. Ele pode inclusive, fazer isso te empoderando e incentivando a não depender dele. Pagar conta por si só, não é demonstração de cuidado e carinho. Assumir que dinheiro é afeto é justamente o oposto de se valorizar. Então sim, se valorizem, mas não confundam isso com uma conta paga.

Não existe almoço grátis. Nem jantar. Nem date. O cara que se vê na obrigação de pagar, muito provavelmente está reproduzindo padrões e isso pode custar caro pra mulher em várias situações, tipo mulher também “tem que” isso, “tem que” aquilo. E eu não “tenho que” nada, só por ser mulher.

Mulheres que reproduzem comportamentos e falas machistas só reforçam que o cara deve ganhar mais, trabalhar mais. E se perdem nas jornadas triplas, por delegar o papel de provedoras e assumir o de cuidadoras. 

“Mas e os instintos? Não podemos negar a diferença de gênero”. É preciso muito cuidado para não confundir o instinto e o natural, com o que foi normalizado e instituído culturalmente. O normal foi determinado pela sociedade que cresceu com base em relações de submissão e poder. Isso tem zero naturalidade e é muito violento para quem não aceita se enquadrar. Cultura e padrões impostos não têm nada a ver com o natural e instintivo do ser humano.

Dinheiro e poder: A CNV e a distribuição de poder.

Hoje o dinheiro representa poder e distribuir poder é distribuir também a renda. Mulheres estão cada vez mais perto de ter salários iguais e posições de liderança. É muito contraditório querer se empoderar e reproduzir a ideia de que o homem pague mais.

Distribuir poder também é distribuir espaço de fala: Você consegue trazer honestidade quanto a “não tenho grana para sair” e contar sobre isso? Ou só silencia e inventa uma desculpa pra não ir? Ou terceiriza pra outra pessoa a obrigação de pagar? Fica à vontade para sugerir outro lugar ou passeio?

Como distribuir esse poder na prática?

Conversando e criando acordos que funcionem para todas as pessoas naquela relação.

Honestidade de cara, desde o primeiro date. Quanto tempo demora para você trazer transparência para a relação? Muito se fala de “papéis” e pouco de afeto, conexão e diálogo.

Se há mútuo interesse em compartilhar um momento, por que só uma pessoa pagaria? 

Ninguém tem culpa dos padrões violentos que já existem. Mas temos responsabilidade em questioná-los e tentar não passar isso para as próximas gerações. 

Eu espero, do fundo do meu coração, que homens e mulheres possam estar à vontade em ganhar menos que seus/suas parceiros(as) e que entendam o que realmente importa para si, numa relação afetiva.

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